Nunca se é velho demais para brincar – uma máxima que até os chimpanzés adultos parecem seguir.
Já se sabe que os chimpanzés jovens obtêm muitos benefícios ao brincar. Mas parece também ser mais importante entre os chimpanzés adultos do que se pensava anteriormente. Um estudo plurianual com dezenas de chimpanzés adultos na Costa do Marfim sugere que brincar ajuda os adultos a reduzir a tensão e a aumentar a cooperação entre os indivíduos, relataram pesquisadores em 21 de novembro de 2018. Biologia Atual.
“Cada vez que pensamos que temos algo como ‘isto é o que torna os humanos diferentes’, acabamos por derrubá-lo”, diz Kris Sabbi, primatologista da Universidade de Harvard que não esteve envolvido no estudo. “Costumávamos pensar que brincar até a idade adulta era algo que os humanos faziam e, no fim das contas, é algo que os chimpanzés também fazem.”
Brincar entre chimpanzés “é um ato alegre, mútuo e sincrônico”, diz o ecologista comportamental Liran Samuni, do Centro Alemão de Primatas, em Göttingen. Envolve ações normalmente observadas durante a agressão — como morder, dar tapas e perseguir — e, portanto, também envolve confiança entre os participantes. Para os jovens chimpanzés, brincar os ajuda a desenvolver habilidades sociais e físicas. Mas o que a representação de papéis tem para os adultos permanece pouco estudado.
Então Samuni e colegas monitoraram chimpanzés selvagens (Pan trogloditas) vivendo na Floresta Taï, na Costa do Marfim, em uma população onde se sabe que os adultos brincam regularmente. De 2012 a 2018, os investigadores documentaram quase 5.000 sessões de brincadeira envolvendo pelo menos um chimpanzé adulto (definido como aqueles com mais de 12 anos) entre 57 adultos pertencentes a três comunidades diferentes.
A equipe descobriu que a brincadeira era bastante comum entre esses chimpanzés adultos, ocorrendo em muitas formas e situações. No geral, os chimpanzés adultos brincaram em cerca de 40% dos dias em que os investigadores os observaram, e principalmente quando havia mais comida disponível. Algumas sessões envolveram objetos, embora a maioria não. Normalmente, um adulto brincava com apenas um parceiro, mas às vezes mais participavam; a maior sessão de brincadeira documentada ocorreu entre cinco indivíduos.
Os adultos que tinham um relacionamento social mais forte eram mais propensos a brincar uns com os outros, descobriu a equipe. Os adultos também eram mais propensos a brincar juntos nos dias em que o grupo colaborava para caçar macacos ou defender o seu território contra outros grupos de chimpanzés, principalmente antes de essas atividades ocorrerem. E se os adultos brincassem juntos antes dessas atividades, era mais provável que defendessem o seu território ou caçassem juntos.
“Estes comportamentos coordenados requerem a participação de vários indivíduos para serem bem sucedidos”, diz Samuni, “portanto, um mecanismo como o jogo social adulto-adulto, que pode promover a confiança, reduzir a ansiedade e motivar o envolvimento colaborativo, é particularmente benéfico”.
A equipe também encontrou pistas de que a brincadeira pode ajudar os chimpanzés adultos de outras maneiras. Por exemplo, os adultos eram mais propensos a brincar com alguém com quem brigaram recentemente em comparação com qualquer outra pessoa – sugerindo, diz Samuni, que o jogo social “poderia servir como um mecanismo para a reconciliação de conflitos e redução de tensões”.
Os adultos também brincavam mais quando a tensão era maior. Por exemplo, em dias tensos, quando uma fêmea estava pronta para acasalar, as fêmeas tinham quase 50% mais probabilidade de brincar com outros adultos do que noutros momentos, “potencialmente como forma de reduzir o stress e a tensão social”, diz Samuni.
O novo trabalho complementa outras descobertas, publicadas em 20 de novembro em PLOS UMque os chimpanzés que viviam num santuário na Zâmbia eram mais propensos a brincar e a se arrumar se vissem outros indivíduos fazendo o mesmo.
“Nos humanos, sabemos que compartilhar experiências positivas, como brincar, rir e receber alguns mimos, é importante para as nossas relações sociais, bem como para o nosso bem-estar”, diz Zanna Clay, psicóloga da Universidade de Durham em Inglaterra e co-autor do estudo da Zâmbia. “É provável que estas funções sejam evolutivamente antigas e partilhadas com os nossos outros parentes primatas.”
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